segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Conheça algumas lendas parnaibanas

A  LENDA  DA  CARNAÚBA

            Em uma região muito fecunda e bonançosa – conta uma lenda indígena – habitava uma tribo feliz e próspera, em tempos em que a memória não guardou.
            Um dia, uma seca terrível assolou o País lendário.  Luas e luas e os habitantes aguardaram as chuvas.  Mas o flagelo persistiu.  E a tribo, outrora feliz, viu seus filhos morrerem um após outro.  Uma família apenas sobreviveu à catástrofe: um casal e um filho.  E, ante a ruína do seu povo, os três partiram em busca de outras terras. 
            Seis dias e seis noites viajaram os retirantes.  No sétimo dia, sob um sol escaldante, avistaram na chapada uma palmeira perdida no deserto.  Abrigaram-se à sua sombra para uns momentos de repouso.  Vencidos pelo cansaço, os pais adormeceram, enquanto o jovem índio, desperto, implorou as graças de Tupã.
            Nesse momento, no alto da palmeira, entre sua folhagem, surgiu uma mulher, morena e bela. 
            ― Meu nome é Carnaúba, disse ela.  Como a tua, a minha tribo foi destruída pela seca.  Quando morri, Tupã, apiedado, transformou-me nesta palmeira, para que protegesse nossos irmãos de raça.  Toma de teu machado e me corta! Do meu estipe tirarás o palmito, e terá alimento. Com minha palha, construirás teu abrigo; da minha cera farás velas e terá paz.  O meu fruto plantará e outras palmeiras surgirão para o teu povo.
            Assim fez o jovem índio.  Em alguns anos, o deserto transmudou num palmeiral farfalhante.  A família transformou-se em "Clã".  A vida voltou a ser feliz.  E o jovem índio, agora envelhecido, partiu para levar, às outras tribos, sementes da palmeira de Tupã, que passou a chamar-se a "ÁRVORE DA VIDA".

A LENDA DA MACYRAJARA

            Macyrajara era uma linda jovem de olhos amendoados e cabelos longos. Seu pai era o chefe Botocó da tribo dos Tremembés, que habitavam as terras da margem direita do Igaraçu até o mar.
            Macyrajara conheceu Ubitã, jovem guerreiro pertencente a uma tribo inimiga da sua, que habitava a planície litorânea. Os dois se apaixonaram e passaram a se encontrar às escondidas.
            O pai de Macyrajara tomou conhecimento e, discordando daquele amor, mandou prendê-la numa oca vigiada por sete guerreiros.
O desenho estampa a parede do Centro Recreativo do SESI 
na Lagoa do Portinho, em Parnaíba-PI
            Ubitã, louco de saudades, procurou em oração se aconselhar com o deus Tupã. E à noite, quando dormia, Tupã lhe disse que Macyrajara estava presa e que ele não fosse procurá-la porque podia morrer.
            O destemido guerreiro, levado pela paixão, não ouviu os conselhos de Tupã. E, ao anoitecer, saiu à procura de seu grande amor. Ao chegar próximo à oca, foi atingido no peito por uma flecha inimiga, tendo morte imediata.
            Macyrajara, ao tomar conhecimento da tragédia, saiu correndo e desapareceu na escuridão da noite. Três dias após vagar pelas matas, parou em um olho-d’água. Naquele momento, começou a chover, ela, então, cheia de dor e tristeza, começou a chorar. Ali suas lágrimas e a chuva se juntaram àquelas águas que corriam.
            Tupã, apiedando-se dela, transformou suas lágrimas no rio que separou as duas tribos.
            Hoje, aquele rio chama-se Portinho e separa as terras de Luís Correia das de Parnaíba.


A LENDA DO CABEÇA DE CUIA

            Era uma vez um pescador chamado Crispim, que certo dia ao voltar de uma infrutífera pescaria, cansado ao adentrar em seu casebre resmungou para a mãe:
            ― Quero comer!
            ― Pronto  filho, só temos pirão e este corredor de boi. 
            E colocou a tigela de pirão com o corredor em uma improvisada mesinha.
            ― Esta porcaria?
            Irritou-se e arrebatou com o corredor na mão agredindo violentamente sua pobre mãe, que cai por terra agonizando:
            ― Filho ingrato, eu te amaldiçoo: não terás o descanso eterno enquanto não devorares sete Marias virgens. Vagarás como morto-vivo!
Ilustração: Di Holanda
            Mas, pelo encanto ele não morre, transforma-se num ser horrendo, aquático. Sua aparência, deformada, cabeça grande, corpo esquelético o fez conhecer-se cabeça de cuia.   Daí por diante, sempre dizem que aparece nas cheias, virando canoas, assustando lavadeiras em sua busca frenética pelo descanso eterno, com a tentativa de cumprir a sina de devorar sete Marias virgens.

LENDA CABEÇA DE CUIA EM CANTO

Sete Marias
Precisa tragar
São sete virgens
Por encanto quebrar.

Quando o rio
Lua cheia desce
Cabeça de Cuia
Sempre Aparece.

Rema pra margem
Oh! Velho pescador
Que na curva do rio
O monstro vai apontar.

Castigo tremendo
Que Deus lhe deu
Por bater na mamãezinha
Crispim lhe encantou

Tem medo, oh! Maria
Que estás a lavar
O Cabeça de Cuia
Te pode tragar.

O VAREIRO DE PARNAÍBA

Porto das Barcas - Porto Salgado - início do século XX
Foto: Morais Brito.
            Vareiro ou “porco d’água”, era uma figura típica do rio Parnaíba, que durante muitos anos se destacou em nosso município, antes da navegação à vapor teve ele mesmo que gerar a força-motriz necessária para acionar as primeiras embarcações, desde o Porto Salgado, até além, do curso médio, do rio Parnaíba, com o uso da vara de 4 braças, do cabo de espiada de manilha.
            Quando, nos dias de folga, o vareiro gostava de vestir calça de mescla ou riscado grosso, com camisa de listrinha azul e branco, exibindo sua musculatura de homem de sol, com talinge nos braços, chapéu branco de abas curtas, viradas para cima e tamancos pesados, com rosto de sola ou pele de bode curtida e o cinto de sola grossa, com fivela de latão, era indispensável. Não esquecia a faca marinheira, embainhada, e cujo cabo destacava-se uma estrela de cinco pontas para combater “mandinga”. Sua arma era “cacete de jucá”, que sempre ficava na embarcação e, só usada quando ameaçados.
            Eles faziam a alegria do porto e da Rua dos Barqueiros, na Quarenta.
            Com o crescimento do Porto Salgado, a navegação à vapor, em substituição aos pequenos barcos e canoas, e a construção da ponte Simplício Dias, pouco a pouco, esta figura típica desapareceu de nosso município, existindo apenas, em determinados trechos do rio, onde há carência de transporte. 

LENDA DO MORRO GEMEDOR

            A índia Intã, linda jovem Tremembé descendente de Mandu Ladino, vivia na Ilha Grande de Santa Isabel, numa linda praia próxima a Pedra do Sal.
            Intã amava a natureza, gostava de caminhar pela praia, brincando com a areia e as ondas que chegavam aos seus pés e num desses passeios encontrou desmaiado, um náufrago, moço branco, de cabelos loiros, sua formosura deixou a Índia Intã encantada e apaixonada e, logo passou a chamá-lo de Ará.
            Consciente do perigo que corria caso fosse visto pela tribo, Intã resolveu escondê-lo, e escondeu seu príncipe numa cabana distante, abandonada. Quando ele se recuperou os dois começaram a passar os dias se amando, envolvidos no maior romantismo e não perceberam, entretanto, a invasão das dunas. A areia cobria a “cabana do amor”, como poderiam chamá-la.
            A cabana desapareceu, foi coberta pela areia e, segundo contam a índia Intã  continua a gemer nos braços de seu grande amor o seu príncipe Ará.
            O lugar soterrado deu origem ao Morro Gemedor, e se você tem dúvidas sobre está historia, visite e tente subir, o Morro Gemedor que você ouvirá com certeza, os  “Ais” de amor de Intã e Ará.

OBS.: Devido a divisão territorial ocorrida em 1997, esse morro localiza-se agora no município de Ilha Grande do Piauí, portanto não é mais uma lenda tão "parnaibana".

FONTE: Adaptado de: Morais Brito: viagens e turismo.  Acesso em: 13.08.2012.

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